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domingo, 16 de outubro de 2011

Barney


  Eu tinha um cachorro chamado Marley Barney. Ele morreu semana passada. Lembro como se fosse hoje: entre seus últimos suspiros, ele me olhou e disse: au au.
  Barney era um grande amigo, grande companheiro. Quando minha mãe entrou em trabalho de parto, ela estava sozinha com ele em casa. Meu pai tinha ido comprar cigarro (por sinal não voltou até hoje), e nós morávamos muito longe e não tínhamos vizinhos, nem telefone. Ele não teve dúvidas, fez o meu parto. Seu focinho foi a primeira coisa que vi ao nascer.
  Enquanto minha mãe trabalhava, ele cuidava de mim. Ele me ensinou a ler e escrever, a andar de patins e a lutar como o Bruce Lee. Ele me apresentou os "Beatles" e me ensinou a dançar como John Travolta em "Os Embalos de Sábado à Noite".
  Quando cheguei a adolescência foi com ele o meu primeiro porre. E quando tudo ia de mal a pior na minha vida e eu tive vontade de desistir de tudo, ele olhou sério nos meus olhos e disse: au au.
  Hoje eu lembro de você e de todas as conversas que nós tivemos, e chego a conclusão de que eu não me tornei um completo idiota. Sou até esforçado, sobrevivendo aos trancos e barrancos. Sem você eu não teria chegado aonde cheguei. E até hoje eu sigo seus conselhos, rosnando para as cobras que me ameaçam, latindo para as raposas que me enganam, e mordendo as gatinhas que me dão sopa.
  Obrigado meu amigo. Só me resta dizer mais uma coisa: au au.

Mentira

  
  Se você leu o título desta postagem e achou que a mesma seria sobre a "mentira" ou qualquer coisa relacionada a ela, enganou-se. Era mentira. Então você não se enganou, era sobre "mentira" mesmo. Enfim..


  Um poeta cantor um dia disse: "Quem me dera ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante".  Sim, quem nos dera.
  Por que a vida às vezes parece tão complexa, tão difícil? Unicamente pelo nosso ponto de vista. Nós nunca paramos para reparar que a união de todas essas coisas simples resultam no que há de mais importante em nossa vida. Preferimos dar mais atenção a todas essas coisas complexas que, na verdade, pouco importam na nossa vida. E por que fazemos isso? Não sei. Se eu soubesse começaria a ver o mais simples como o mais importante.
  E enquanto continuamos vivendo às cegas, o mundo continua doente. Ver é o primeiro passo para se viver. Quando você vê, você entende. Quando você entende, você age. Se você viu errado, agiu de forma errada, viveu de forma errada. Se você não viu, você não agiu, não viveu. E isso é ainda pior. O quanto você já deixou de viver?
  Eu nunca vou conseguir explicar o que ninguém consegue entender, porque eu mesmo nunca vou entender. Mas eu posso acordar amanhã e, ao abrir os olhos, reconhecer que aquele sim é um momento importante. O primeiro e o último passo do dia serão momentos importantes. Do primeiro "bom dia" até o último "boa noite". Simples e importante.
  

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Enquanto eu corria



  Enquanto eu corria na praia, uma água-viva saiu do fundo do mar, voando na minha direção. E ela disse pra eu seguir em frente. E eu continuei a correr. 
  Enquanto eu corria na praia, uma coruja saiu debaixo da areia, voando na minha direção. E ela disse para eu seguir em frente. E eu continuei a correr.
  Enquanto eu corria na praia, uma tartaruga veio correndo, de patins, na minha direção. E ela disse para eu seguir em frenteE eu continuei a correr.
  Enquanto eu corria na praia, o Fiuk apareceu na minha frente, tocando violão talentosamente e cantando com extrema afinação. E ele disse para eu seguir em frente. Eu parei de correr e fui embora. Fiuk com talento e afinação? Eu só poderia estar desidratado. Era uma alucinação, na certa.