segunda-feira, 18 de abril de 2011
Meus anjos
Eu não acredito mais em coelho da páscoa, em papai noel ou em reforma agrária. Então me desculpem, mas hoje eu quero as coisas mais certas ao meu lado. Posso não ser a pessoa mais certa do mundo pra dizer o que é certo, já que até o senso comum não é mais confiável. Mas, no fundo, todos sabemos né. Então, não tentem me empurrar goela abaixo uma inocência inexistente.
O mais importante é que, eu sempre soube caminhar com meus próprios pés, mas só hoje eu sei onde cada caminho vai me levar. E sei quem eu posso escolher para iluminar esse caminho, e sei quem me empurraria para o caminho errado, rumo ao desfiladeiro. Mas esses são minoria.
Eu não preciso gritar pra que vocês me entendam. Benditos sejam vocês que sabem o que quero dizer mesmo ao não dizer nada. E que riem e me esperam voltar quando vou para outro mundo, durante alguns segundos...
"No creo en brujas, pero que las hay, las hay." Mas meus anjos são mais fortes. Meus anjos me carregam quando eu nem consigo mais andar sozinho. Meus anjos me fazem rir quando, ridiculamente, sinto pena de mim. Meus anjos riem de mim, riem comigo, riem deles. Meus anjos me aconselham e ouvem meus conselhos. Meus anjos bebem comigo, dançam comigo, vêem seriados comigo, tomam sorvete comigo. Meus anjos comem comigo, dormem no meu sofá, dormem na minha cama, acordam tontos e até limpam minha cozinha.
Então, como já disse antes, não acredito mais em coelho da páscoa, em papai noel ou em reforma agrária. Mas em anjos sim. E eles também acreditam em mim.
sábado, 2 de abril de 2011
267
Lembro-me como se fosse hoje:
Dentro do quartel, mais especificamente numa sala do prédio da Artilharia, estávamos tendo uma Instrução (aula) sobre Inteligência Militar. E eu não tinha sido nada inteligente naquele dia.
Demorei para colocar a farda e cheguei atrasado na instrução. O Sargento, aos berros, empurrou-me para dentro da sala para que não me atrasasse ainda mais. Notei que aquele não era meu pelotão, estava na sala errada. Fiquei na minha e sentei na cadeira para assistir a aula.
Quem estava "dando a aula" era o Cel Faustino (nome fictício para não expor ninguém. Mentira, não lembro o nome dele mesmo), que nada mais era que o Comandante de todo aquele quartel.
Bom, durante a instrução, o Cel Faustino comentou sobre algum caso de crime, não sei porque. Mas durante o comentário ele proferiu as seguintes palavras:
- Foi um daqueles crimes que não se têm intenção de praticar.
Um aluno levantou a mão e complementou:
- Crime culposo, senhor.
- Como disse, aluno? - perguntou o Cel.
- Um crime que não se tem intenção de praticar é culposo. E quando se tem a intenção de praticar é doloso, senhor - respondeu firmemente o aluno.
- Hã. E...? Alguém te perguntou alguma coisa, aluno? Vai fazer alguma diferença pra nossa instrução essa sua informação, aluno? Cultura inútil! Quem aqui dos alunos concorda comigo que levante a mão! - ordenou o Cel.
Bem, notei que a grande maioria tinha levantado a mão, é claro. A grande maioria não, todos. Todos menos eu. Não concordava mesmo, e estava sentado ali atrás, numa das últimas cadeiras, lá no fundo mesmo. Ninguém veria. Errado, viram.
- Comandante! Tem um aluno aqui que não levantou a mão! Levanta aluno, pro Comandante te ver - delatou-me o Sgt Ramires (também não lembro o nome).
Dito isso eu me levantei e fiquei em posição de sentido.
- Aluno, o Sr. não estava prestando atenção na minha aula, está com algum problema no braço que te impediu de levantá-lo ou realmente não concordou comigo? - perguntou-me o Cel.
- Eu não concordei, senhor! - eu respondi e pensei: tô ferrado!
Alguns alunos me olharam com olhos arregalados e alguns sargentos balançaram a cabeça negativamente. Acho que realmente tinha feito besteira, como sempre.
Cel Faustino se aproximou e perguntou:
- Por que o senhor não concorda comigo, 267? - forçando um pouco a vista para enxergar meu número.
- Na minha opinião, saber o que é um crime culposo ou doloso não é uma cultura inútil, senhor! Cultura inútil é "Domingão do Faustão", "Domingo Legal" e "BBB", senhor! - respondi enquanto pensava: era só ter levantado a droga do braço e ficado quieto! Mas nãããão! Tinha que cagar tudo!
- "Domingo Legal" e o que, aluno?! - perguntou o Cel.
- BBB. Big Brother Brasil, senhor! - dei uma ênfase no "Brasil", como um bom militar patriota.
Cel Faustino se aproximou mais ainda. Parou, olhou, sério, nos meus olhos e disse:
- 267, o senhor pode até estar certo. Mas mesmo certo, o senhor está sempre errado. Enquanto EU, mesmo estando errado, sempre vou estar certo, entendeu 267?
- Sim senhor.
- Então paga 10 flexões aí. Continuando de onde parei ... - disse, retomando a aula.
Após pagar as 10 flexões, suspirei, aliviado, e voltei a assistir a instrução. A punição tinha saido barata demais.
Logo depois do término da instrução, o Tenente Seixas (não preciso dizer que também é fictício né?) nos levou de volta para nosso alojamento. Enquanto todos nós éramos dispensados para finalmente descansarmos e dormirmos, ele chamou meu nome. Ficamos só nós dois ali no pátio e ele me perguntou:
- 267, o senhor tem merda na cabeça?
- Não senhor.
- Aquele cara manda nessa porra toda aqui. Nem eu falo com ele daquele jeito. Aprende uma coisa, aqui no exército o que define quem está certo ou errado é a hierarquia. Então, o cara pode estar falando a maior besteira do mundo, mas se ele estiver acima de você, finja que ele está certo. Entendeu, 267?
- Sim, senhor.
- Mais uma coisa. Paga mais 10 aí. Mas vou pagar junto com você, porque hoje você mandou muito bem, 267! Anda logo que tô cansado de olhar pra sua cara hoje.
Ele se posicionou ao meu lado e fizemos as 10 flexões juntos.
É, vivendo e aprendendo...
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